sábado, 9 de fevereiro de 2008

Solilóquios...


Quando eu morrer e, lá no céu, forem me mostrar as estatísticas, vou ficar sabendo de uma coisa que na verdade já sei: 1/3 da minha vida foi gasto procurando e perguntando "Alguém viu meu isqueiro"?...

A Rainha da Intriga


A americana Patricia Highsmith (1921-1995) é um exemplo perfeito de escritor capaz de construir uma grande obra tendo como ponto de partida um gênero menor – no caso, a ficção criminal. Em vez de valer-se do formato clássico desse tipo de romance, no qual a trama é um quebra-cabeça que culmina com a descoberta do assassino, ela usou o crime como mote para mergulhar em aspectos perturbadores da psicologia humana. Interessavam-lhe, sobretudo, as condutas amorais e o que se poderia chamar de "personalidades voláteis". Esses traços estão sintetizados em seu personagem mais célebre, Tom Ripley, um assassino que assume a identidade de suas vítimas. Ripley protagonizou cinco romances, ganhou várias encarnações no cinema e foi, sem dúvida, a grande criação da autora. Mas Patricia escreveu outras histórias de engenhosidade comparável. Sua carreira teve início em 1948 quando escreveu seus dois primeiros romances de sucesso: “Pacto Sinistro” e “Carol”. O primeiro trata de um astro do tênis que encontra um fã no trem e combina com ele um duplo assassinato. O livro fez sucesso quando saiu, em 1949, e levou Alfred Hitchcock a filmá-lo. O enredo de Carol surgiu no fim de 1948, quando Pacto Sinistro estava pronto. Texana, Patricia trabalhou então como balconista numa loja de Nova York. Ali, teve a visão de sua heroína: uma mulher loira, bela e vestida de peles, que comprava uma boneca. Patricia esboçou a trama na hora. A balconista Therese se apaixona por Carol. Para fugir aos preconceitos, as duas pegam a estrada. Não sabem que um detetive as segue. Pela primeira vez, uma relação homossexual tinha final feliz no policial americano. Com medo do preconceito e já famosa, Patricia publicou Carol somente em 1952, sob o pseudônimo de Claire Morgan. "Nunca escrevi um livro tão ousado", afirmou. Os dois romances são pequenas obras-primas de ousadia e fluência narrativa. Não deixe de se envolver com os assassinos e a mulher sedutora saídos da imaginação de uma estreante de 27 anos que logo se tornaria a rainha da intriga, com uma obra de 25 livros de sucesso. Outro que merece ser mencionado, e lido (claro), é o romance “As Duas Faces de Janeiro”, recentemente publicado no Brasil. Escrito em 1964, este livro teve um parto difícil: depois de refazê-lo diversas vezes por exigência de sua editora, que achava a história de pouco apelo comercial, Patricia deu um basta. Lançou-o por outra editora – e o resultado foi o sucesso estrondoso de crítica.
Patricia nunca escondeu que seus livros estão impregnados de fantasmas pessoais. Nascida no Estado americano do Texas, mas radicada na Europa durante a maior parte da vida, a escritora foi uma figura atormentada por traumas de infância e que tinha uma relação problemática com sua sexualidade. Numa biografia lançada há alguns anos, o jornalista Andrew Wilson revela que até o fim da vida ela guardou mágoa da mãe, que tentou abortar seu nascimento ingerindo terebentina e mais tarde reprimiu o quanto pôde o lesbianismo da filha. Patricia só conheceu seu pai biológico aos 12 anos – e, na ocasião, ele tentou abusar dela sexualmente. Na adolescência, a escritora sofreu de anorexia, fato que mais tarde atribuiria ao desejo de fugir de sua própria personalidade.
Adulta, Patricia se tornou um poço de melancolia e contradições. Embora tenha vivido uma infinidade de relações com homens e mulheres, era confessadamente lésbica e tinha dificuldade em estabelecer ligações duradouras. Em alguns momentos, por outro lado, teve "recaídas": chegou a freqüentar o psicanalista com o objetivo de se tornar definitivamente heterossexual. Coisa que jamais conseguiu. Apesar de lésbica, Patricia declarava ter horror à convivência com a categoria, logo evitava guetos e não queria ver seu nome associado a nenhuma militância gay. A sexualidade, na sua opinião, era apenas um dos muitos aspectos da personalidade, como o fato de ser escritora, ou americana, de modo que jamais quis condicionar ou limitar sua identidade a um único detalhe de sua vasta pessoa. Seu par romântico ideal, dizia, eram as mulheres casadas. Curiosamente, a escritora foi acusada de misoginia pelas feministas. Elas alegavam que Patricia tinha um prazer perverso em descrever assassinatos brutais de mulheres. "Ela não se sentia mulher e não entendia para que elas serviam", declarou a Wilson uma amiga da escritora.
A respeito de sua obra, Graham Greene comentou que o mundo de uma novela de Patrícia Highsmith é “claustrofóbico e insidioso, no qual nós entramos sempre com uma sensação de perigo pessoal”. Patricia Highsmith mudou-se definitivamente para a Europa em 1963. Ela nunca abandonou suas raízes texanas: usava jeans, tênis e lenço no pescoço. Passou a maior parte de sua vida sozinha, e viveu seus últimos anos numa casa isolada perto de Lugano, na divisa entre Suíça e Itália, onde morreu em 4 de fevereiro de 1995. Seus arquivos literários são mantidos em Berna.

O talentoso Tom da talentosa Pat!...

Patricia Highsmith estava passeando em uma praia da Itália quando viu um cara com jeitão solitário caminhando na areia. Ela ficou pensando o que ele estaria fazendo ali e porque estaria sozinho. Quando voltou pra casa ficou com isso na cabeça e começou a escrever a primeira aventura do seu inigulável e charmoso anti-herói. O romance fluia rapidamente e mais tarde ela comentaria "Frequentemente tive a sensação de que Ripley escrevia e eu datilografava."
Todas as faces cinematográficas de Tom Ripley

Tom Ripley é o arquétipo do anti-herói que odiamos amar e amamos odiar. Maldoso, falsário, homicida e em alguns momentos patético, Ripley se assemelha muito a uma raposa – porém, acabamos levando em conta a maneira inteligente como ele se safa de situações complicadas, sua aparente fragilidade e também sua deliciosa dissimulação. O leitor se apaixona pela riqueza psicológica e a tênue frieza que Highsmith embutiu em seu mais célebre personagem – algo parecido com o que Thomas Harris fez com o seu Hannibal Lecter.
Ao contrário de Lecter, Ripley é mais humano e seus crimes acontecem quase sempre por acidente. As vítimas geralmente sentem-se seguras perto dele. As passagens dos assassinatos são como espirais de tensão e suspense, que culminam em um Ripley acuado tentando limpar uma sujeira. E diferentemente de Lecter, Ripley às vezes costuma amargar a famigerada culpa ou arrependimento, algo inerente ao ser humano com consciência. Mas Ripley sempre justifica em pensamentos os seus atos, abstendo-se da responsabilidade. É o típico “antes ele do que eu”.
Ripley tem sua opção sexual insinuada em diversos pontos da trama, mas jamais discutida abertamente. Isso vem a tona em apenas um capítulo de “O Talentoso Ripley”, quando Tom briga com Dickie Greenleaf e expõe seus sentimentos em relação a ele. Patrícia buscou inspiração para o assunto em sua vida pessoal, coisa que já foi comentada anteriormente.
Quando o conhecemos em “O Talentoso Ripley”, Tom é apenas um pequeno golpista que sobrevive em Nova Iorque. Ignora a compaixão humana – o que explica sua frieza - oscilando entre o ambiente ao qual pertence (o submundo) e onde gostaria de estar (altos nichos sociais). Sua capacidade de imitar e trapacear pelo óbvio, não emerge aos inocentes olhos da maioria das pessoas.
A grande virada se dá quando é procurado por um empresário milionário. Ele supõe existir uma amizade entre Tom e seu filho, Dickie Greenleaf - herdeiro de um império naval. Tom Ripley embarca para a deliciosa Itália com a missão resgatar o filho que teima em não ser pródigo. Ao chegar lá conhece a boa vida ao lado de Dickie, tornam-se amigos inseparáveis. Mas quando Tom percebe que a suas férias estão para acabar, arma um plano para permanecer; assumindo a identidade de Dickie.
Em “Ripley Subterrâneo”, Tom mora na França e cerca de dez anos se passaram. Está casado com a bela e temperamental Heloise, levando a vida que sempre quis e ganhando lucros através de uma renomada galeria de arte. O principal pintor, Derwatt, se suicidou há algum tempo e os sócios de Ripley encobriram a morte, continuando a vender quadros falsificados. Quando um colecionador descobre a farsa, Ripley terá de arregaçar as mangas e colocar seus talentos em prática novamente.
No terceiro livro da série, “O Jogo de Ripley” nosso herói sem caráter arma uma vingança contra um americano que está a beira da morte, fazendo-o cometer assassinatos. Um dos melhores livros da série. Já em “Ripley Debaixo D´Água”, Tom tem de encobrir alguns crimes do passado, viajando elegantemente pela Europa.
Leia os livros e ou veja os filmes. São igualmente fascinantes.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Palavras cantadas...


Eu vou pra Maracangalha, eu vou

Eu vou de ‘liforme branco, eu vou

Eu vou de chapéu de palha, eu vou

Eu vou convidar Anália, eu vou


Se Anália não quiser ir

Eu vou só, eu vou só

Se Anália não quiser ir, eu vou só

Eu vou só, eu vou só sem Anália, mas eu vou...


Eu vou pra Maracangalha

Eu vou pra Maracangalha

Eu vou pra Maracangalha

Eu vou...
FELIZ CARNAVAL